Sábado passado tive a oportunidade de assistir “O Sacrifício” e confesso que minha impressão foi muito pior do que esperava.
Não sei quantos aqui viram a primeira versão do “Homem de Palha” (
The Wicker Man, Inglaterra, 1973). Apesar da afronta que o filme original era para a comunidade pagã, ele acaba se tornando interessante por retratar uma vila isolada do resto do mundo, mantendo vivos costumes pagãos. Na pior das hipóteses, até vale a pena ser assistido se encarado enquanto documentário.
Infelizmente, o que notamos ao assistir ao
remake é que o filme antigo era muito mais “simpático” que o atual. Na versão antiga,
Summerisle era uma comunidade pagã com homens e mulheres vivendo em uma situação de igualdade e liberdade. Na versão nova, a mesma ilha é formada por uma aristocracia feminina, ditatorial, criando um matriarcado que muito pouco deve à idéia de raça ariana esboçada por Hittler. Irmã Summerisle (Ellen Burstyn), “ela própria a representante da Deusa na ilha”, chega a afirmar que os homens servem somente para a reprodução. Ao tentar se comunicar com eles, Edward Malus (Nicolas Cage) somente depara com seres que, por não terem autonomia para se comunicar livremente, abaixam a cabeça e fogem. Em mais deu uma cena isso se repete (por exemplo, quando ele salva um trabalhador de ser esmagado por várias toras de madeira). Mais que uma crítica ao paganismo em geral, esse
remake é uma ofensa direta às religiões do divino feminino.

Além disso, diferente do filme anterior, “O Sacrifício” passa a idéia de que essa é uma sociedade extremamente perigosa, que se organizou na Ilha Summerisle para poder recorrer freqüentemente a sacrifícios rituais de forma premeditada e, por que não, sádica. No “The Wicker Man” original, o policial fora atraído para a ilha por causa da péssima colheita que tiveram no ano anterior. Os moradores simulam o desaparecimento de uma menina, e o fizeram crer que a mesma seria sacrificada no sabbat para garantir a colheita do ano vindouro. Entretanto, isso não passa de simulação e o sacrificado é o próprio Sargento Howie (Edward Woodward). O próprio Lorde Summerisle (Christopher Lee) afirma que foi a primeira vez, desde que seus antepassados ocuparam a ilha, que eles recorreram a este tipo de expediente para garantir a graça dos deuses. Em “O Sacrifício” há uma diferença crucial: em vez de terminar o filme com o sacrifício ritual, o filme avança no tempo 6 meses, e mostra uma cena, onde Willow (Kate Beahan), filha de Irmã Summerisle e ex-namorada de Edward Malus, repete sua tática de se envolver emocionalmente com homens do continente para atraí-los para a ilha. Esse fato vem de outro, também novidade nesta versão: a menina desaparecida é filha do policial investigador, nascida de um relacionamento dele com Willow no passado e gerada unicamente para garantir os laços que levariam Edward Malus ao sacrifício.
Irmã Summerisle conduzindo o sacrifício
Um filme feito, com certeza, para justificar a crença de que pagãos ainda realizam sacrifícios rituais humanos e que são potencialmente perigosos. É bom lembrar que, em sua origem, o Cristianismo e o Judaísmo também praticavam sacrifícios. Basta lembrar o célebre caso de Abrãao e Isaac. Mas, da mesma forma que essas religiões mudaram com o tempo e evoluíram, nós pagãos também não mais temos essas práticas em nossas liturgias. O compromisso do pagão contemporâneo é com a vida, de uma forma tão visceral que um cristão talvez não consiga entender. Pessoas que pratiquem sacrifício ritual hoje em dia não são pagãos, e sim criminosos, e como tais, não é mais um problema religioso, e sim de polícia e hospício.
Só para terminarmos com esse assunto: se não bastasse tudo isso, no filme várias mulheres são espancadas por Edward Malus. Se os pagãos são realmente tão perigosos, é engraçado pensar em quem anda propagando essa cultura de violência, não é mesmo?
Por essas e outras acho que essa versão é muito, mas muito, mais agressiva que a primeira. A única coisa boa do filme é que, como no primeiro, o mocinho morre no final.
Fonte:
Paganismo.org
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